domingo, 21 de novembro de 2010

Quando o dia vira noite.

Acordo com a lua. Vejo o sol se despedir. Ele me indica a hora de morrer. Tropeço em soluços. Não consigo me manter sem a rotina, mas também não consigo com ela. Todo dia é assim. Morte e vida ao contrário da luz do sol. A praia só serve à noite, pra bater e ver bater. Pras ondas pertencer. Como faço todo dia nos lençóis. Machu Picchu é a extremidade da Serra do Roncador. Vamos todos lá, conhecer, a emulação da energia vital, ou o que restou dela. A explosão do vulcão magnético cheio de lava de ternura. Porque ternura é mais bonito que amor. Porque ternura serve pra mais gente do que amor. Porque ternura me abraça, me diz o que deve ser feito sem dizer o que devo fazer, porque quem diz o que devo fazer me julga e não sabe fazer o dizer e o que diz ter feito. A águia, corajosa, lá no alto do ar rarefeito, quando percebe a demasiada protuberância do seu bico, quebra-o, batendo incansável e repetidas vezes na pedra dura e furunculada, até que ele se estraçalhe com as pancadas incessantes, rache e se desfaça para ter seus pedaços secados ao sabor do sol e do sal junto com a falta de chuva. E aí a águia sofre, chora, dói, sente vergonha, sente a nudez de seu ser, ela está ali, à mercê de o que quer que seja, sem saber exatamente ao quê, nua, triste, fodida, sofrida, sem chão, sem verdade, sem objetivo, sem alimento. Emagrece muito, até que os primeiros raios de sol começam a surgir na alvorada da sua jornada de renovação. Ainda dói, mas agora é a dor da vida, e não do fim, a dor dos dentes de leite que brotam em gengivas virgens e frescas. Ela é velha, mas de repente é como se estivesse nova. Enfrentou as trevas da auto-inflexão e a sabotagem do próprio meio de vida para apostar no futuro. E agora ele veio, sem pressão, sem freio, com naturalidade, assim, bonito, fluindo, significando cada pêlo que se abre na extremidade bucal para o adiantamento do novo bico. Quando ele cresce, está novo, de novo, em gengivas virgens, em busca do alimento para revigorar a carne, o ser, o sentido da vida, a vida em si. Nova, rejuvenescida, a águia parte em seu voo para buscar a caça e realizar o sentido da sua vida novamente, como se tivesse morrido e vivido dentro de uma só mesma vida.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Crer

Sabedoria é crime? Perguntou Ozar para mim. Claro que pode ser. Da mesma forma que tudo é político. Sabedoria é um ato político. Amar é um político. Sentir e sofrer é um ato político. As decisões de cada dia, de cada instante, fazem crer que o mistério do acontecido só se acentua. Parar e pensar cinquenta vezes é redundância, mas pensar só duas é uma maneira de ser sábio. Essas músicas do Interpol realmente embalam um domingo chuvoso. É tão difícil pensar, sentir, transcender, desbloquear. Cada dia que envelheço aumentam as barreiras. Fica pior pra me mover. Atado, ataviado, atravessado. Está tudo atravessado na garganta. Vontade de não fazer nada por nada com nada. E aí? Vai ser um velhote deprimido? Que coisa patética. Há tantas coisas pra fazer, e nada agrada. Nada serve. É um verme que corrói dentro. Ele fica quietinho comendo. Vou pegar um avião e sumir pra essas bandas por aí. Quanta dificuldade para acreditar. O que quero é crer. Mas não há algo. Não há norte. Não há ligação possível. Não parece haver saída, nem beco, nem fim, só há o que não há. Só é o que não é. Só faz o que desfaz. Só pratica o que transgride. Não há mais o que transgredir. Só a carne. Cortar a carne e sentir a dor. A verdade da dor não nega. Não tem vergonha. Não padece. Não desiste face às lágrimas. A dor só doi, só sabe doer e doer e doer. Sem fim. Sem começo. Sem meio. Sem talvez. Sem depois. Sem por que.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

O Inhame

Eu era um pedaço de broto de inhame, com cabelos cor-de-terra e fiapos soltando da barriga. Tinha muitos pêlos. Algumas pessoas me diziam macaco, mas pra minha mãe e pra mim mesmo eu era um inhame.

A vida no campo é terna. Sente-se um movimento mínimo de vento. Todo o mundo passa com o vento. A magia das pessoas da minha terra é de doer como a simplicidade frágil. Essas pessoas se encantam com a música, com o simples ato ou fato de haver a música, de ela tocar. Não se importam com o que toca, mas com o tocar em si, como já disse e repito. É como se sentem com relação à comida. Para essas pessoas de simplicidade frágil, não importa o que se come, mas o comer. Por isso eu sou um inhame, rico e nutritivo. Quem me come se satisfaz de tudo o que é necessário pra viver uma vida minimamente saudável.

Mas para as pessoas de simplicidade frágil, de que importa viver uma vida saudável, quando o que se quer mesmo é simples ou fragilmente viver? De que importa qual música vai tocar na vitrola, na rádio, ou até mesmo se haverá música ou transmissão de notícias da guerra. O mágico é haver ondas sonoras, o mágico é a transmissão em si.

Nosso tempo de complexidades indestrutíveis roubou a simplicidade, justamente porque ela era frágil. Hoje eu vejo as pessoas se queixarem que as músicas são ruins, os filmes não têm graça, a televisão é uma máquina de fabricar burros. O que eu vejo é uma perda irrecuperável da existência de coisas como fim em si mesmo. Hoje as pessoas discutem qual é a melhor música ou qual é a menos sensata. Quando eu nasci, nada disso importava, e talvez não continue importando na terra onde se fazem inhames. Lá ouvir música é um acontecimento. O cinema faz rir, chorar e a vida se reproduzir, mesmo embora exiba filmes publicitários. E isso porque o cinema, sendo cinema, cativa, intriga, surpreende e arrebata corações e mentes de pobres e pequenos inhames do campo.

Dessa mesma forma eu vejo que os inhames perdem a graça, é melhor comer batata frita ou sanduíches asquerosos. Pra que comer um alimento único rico em tudo, quando se pode ingerir grandes quantidades de sal e gordura e sentir-se empanturrado?

As pessoas de simplicidade frágil são aquelas que não são nada além de si mesmas. Elas não têm graça, nem produzem o que o mundo quer. Elas vivem de carona respirando o oxigênio das florestas e sorrindo para passantes nas beiras das estradas de dentro de seus casebres, emolduradas por janelinhas frágeis de madeira que abrem pra fora. Muitas vezes, usam lenços ou chapéus de palha na cabeça. Quase sempre têm a pele seca e retorcida, como a casca grossa das árvores velhas e castigadas do cerrado. Elas se tornam áridas por fora para refletir a aridez do ambiente em que vivem, e não deixar secar o âmago, o ventre que gera e multiplica inhames. Quando a simplicidade frágil delas é roubada, nada mais lhes resta, porque elas não são nada. E isso dói. Dói para um inhame gordo e felpudo saber da existência de pessoas secas e que morrem secas porque o ambiente pôde romper a casca grossa e seca, a carapaça naturalmente estimulada. Eu queria ser capaz de prover todas as vitaminas que na condição de inhame eu poderia prover. Mas sou só um inhame gordo e imobilizado pelos fiapos que me brotam em todas as partes.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

I am a rock

Eu só posso acreditar nas mãos com unhas saltadas que ela tem. Eu não possuo unhas saltadas. São dedos longos, finos, e as unhas são semi-esferas que vão e terminam num formato convexo. Não acredito numa só medíocre palavra proferida daquela boca, até porque ela tremula quando diz instigada pela verdade. Fala tanta besteira que nem ela mesma acredita, estou certo disso. Mas o que suas mãos dizem, ou melhor, suas unhas convexas, é muito mais importante. De uma importância tão suprema que não posso negar.

Eu estava vendo aqueles dedos se movimentarem diante da minha boca. A menina nova sofria e virava mulher, lá dentro da tela do cinema, mas só as unhas me importavam. Eu queria as unhas em minha boca, embora a boca das unhas só dissesse besteira. Keep from cursing, river on, river in. Minha atitude é muito mais política do que técnica. O que se faz não é meramente pensado, mas substancialmente pensado.

In the pines, in the pines, where the Sun never shines. Eram quatro horas da tarde. Recebi um telefonema que me convidava a uma festa na zona rosa da cidade. Pretendi ignorar, meu sono era mais forte até então. Mas às 7 horas, desperto, a alegria de sair e fazer o mundo girar era intensa. Eu só queria fazer essa bola azul flambar em fluidos etílicos como nunca. Eu sobreviveria, como sempre acontece no final. A diferença seria haver ou não pelos pubianos entre os dentes. Eu queria tanto aqueles pelos das unhas convexas mal pintadas, ou melhor, porcamente pintadas.

Essa garota das unhas convexas pinta sozinha a mão e passa semanas, quiçá meses, sem retocar o esmalte. E pra mim nada disso importa, porque mesmo com unhas mediocremente vermelhecidas precisando de retoque, eu me encanto e as quero em minha boca, à todo e qualquer custo.

Às 7 e meia resolvi que o mais sensato era apreciar um pouco de arte antes de fazer o mundo girar. Encontrei com ela por volta disso, dentro de um sebo a folhear A Valsa dos Deuses, de Kundera, no antro dos malcheirosos que lambem película. Ela não deu a mínima: “De quem se trata? Nunca ouvi falar”. Nada do que eu fiz foi lido corretamente. Quisera eu tivesse mais coragem e ousadia, teria destruído aquela situação num lampejo de brilhantismo e arroubado sua intimidade com beijos incandescentes. Mas não, prefiro a discrição, a medíocre e inútil discrição. Foi tudo o que me faltou, não a discrição, mas a coragem.

Não me deixei abalar, após o jantar, sorvemos uma bela taça de leiteria korova. Aquilo me causava regozijos extremos, mesmo porque não era tão simples, mas eram unhas convexas porcamente avermelhadas por esmalte de quinta categoria, e aquele ir e vir dessas unhas com uma colher que ia e vinha com leiteria korova àquela boca fabulosa me destruía. Yellow stick, and my blues!

A carne tremia ao final, quando a verdade fora estrategicamente revelada. Isto porque o fim se aproximava, seria o momento do ser ou não ser, fazer ou não. A carruagem amarela vinha buscar as unhas convexas manchadas de tinta vermelha. Eu não queria, por mim a carruagem amarela que se explodisse, desde que as unhas convexas ficassem em minha boca. Podiam ficar as unhas, os cabelos, os seios duros, empinados e fortemente juvenis. Lembrem-se, meu julgamento é político, já que a voz da razão pura e técnica não pode ser aplicada, uma vez que submeteria a lamber aquelas unhas encardidas por horas a fio.

No fim pensei: “I am a rock”. E nada mais. As verdades são tão tênues que não podem ser apagadas, justamente por serem tênues, acredita? O fundo se alcança com a mesma velocidade com que se sobe. Como já dissera, a noite não seria curta e queria ver o mundo girar. Toda a alegria que se vive sob fortes estimulantes químicos se transforma posterior e inexoravelmente numa depressão intragável, onde o fundo é inatingível e se morre em grandes pedaços a cada vez que a dose se repete. Diving, diving, diving into the bottom. Não seriam unhas coloridas de uma anca magra e graciosa que roubaria meu ímpeto de subtrair o giro do mundo.

Logrei participar de situações inusitadas, não se pode abandonar. Eu amo, amo demais todas as unhas porcamente coloridas, não que isso seja verdade, mas que só consigo ver uma única unha displicentemente esmaltada de modo a não poder esquecer de que todas têm a sua beleza. Amo todas as ancas do mundo que balbuciam e tremulam perante minha investida ousada e verdadeira. Será que ela não pode compreender que tudo o que fiz foi a mais pura verdade? Que tudo que expresso é incrivelmente verdade? Que tudo que quero é tão forte e autêntico que não há espaço pra ela não querer? A prova de que ela quer, e que está presa em camisas de força, foi entregue. Eu sei, ela não pode mentir, ninguém pode, sua voz e atitude trêmulas, desprovidas de força, denunciam. Ela quer viver, mas não quer aceitar. Nada posso além de lamentar.

A mim me apetecem as situações insólitas, quero le fighe impossíveis. O problema é que elas nunca me parecem improváveis. Sou um negligente autoral, tenho que destruir as situações adversas, embora elas insistam.

Por fim, basta dizer que só quero a verdade, a mais pura verdade. Enquanto ela dorme, o mundo gira, suas unhas convexas continuam vergonhosamente escarlates, não! Dizer escarlate seria um erro, mas vermelhecidas, continuam insidiosamente vermelhecidas. Eu as lamberia por toda a noite, mas não posso, a verdade dói demais para ela. Não posso fazer mais nada por alguém que não sabe lidar com o autêntico, a não ser esperar.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Síntese ao sabor do momento.

Os destinos manifestos são irrevogáveis. Tenho cá pra mim que suas ancas são como bailarinas feitas de algodão que pairam sobre o ar com as sapatilhas. Seus dedos não são pontudos, mas chatos. Cabeças de martelo que me tocam dentro.

Saí de casa por volta das nove da manhã com pasta de dente na orelha. Tinha os dias nos dedos, contava tudo, pacientemente. A cabeça refletia o sol, a luz branca enviesada do inverno nos trópicos, puxa vida, como podem ser doces os invernos nos trópicos.

- Sabe quanto custam esses livros pra mim? Esses aí mesmo que você quer descartar, vender a preço módico, dar como lixo reciclável. Sabe?

- Não tenho a mínima ideia, pra mim não significam muito, não leio, não gosto, não me interesso.

- Longos invernos nos trópicos. Não me venha com essa, não agora que tanto preciso deles.

- Você precisa parar de buscar refúgio nesses livros despedacentos, eles soltam pó e te dão alergia.

- Não me importa, e não me julgue, não é uma questão de refugiar-me, mas muito mais de utilizar seus préstimos. Livros caros são melhores amigos. E estes livros aqui, estes poucos livros aqui, são verdadeiramente meus melhores amigos. Eles me acompanharam, testemunharam o desenrolar da história desenrolando estória. Eles me são muito caros. E isso porque não importa quantos livros leu um sujeito, quantos autores ele conhece, se já leu livros persas, árabes, chineses ou estórias de beduínos e pigmeus selvagens, mas se ele tem um livro, ao menos um, com o qual ele tenha afinidade. Dito isso, postulo que um sujeito só é repleto se ele já tiver lido o mesmo livro pelo menos uma centena de vezes, a ponto de conhecer toda a alma da narrativa e construir sobre ela seus mais profundos sonhos.

- Com o que você sonha agora?

- Com a transformação do inverno amargo dos trópicos em doce, pra isso preciso deles, dos Trópicos, sublimes companheiros de dulcificação. Preciso compreender como funcionam as ancas da borboleta que poderá me anular a bílis. Ela queima, hoje meu estômago estava intragável. Acredito piamente que se eu engolisse uma mosca, ela se desintegraria muito antes do fim do processo.

- Você precisa se acalmar, rapaz.

- Não consigo, elas todas me perseguem o tempo todo com seus olhos imaginativamente indiscretos, seus dedos chatos de algodão que tocam lá dentro. Elas voam em meu estômago e driblam os ácidos. Borboletas sobrevivem, moscas não. Preciso do doce. O doce dos invernos nos trópicos. Tem sido uma sucessão espetacular de invernos amargos, procedidos de saltos que me arremetem diretamente ao verão lasso. Preciso sabotar essa lógica.

- Quer viver os dias? Quer o frescor da manhã de volta na boca e a leveza de não ser ninguém? Quer não ter nada novamente a não ser um mundo a conquistar?

- Talvez minha camisa de força não me permita nem mesmo isso querer. Mas sinceramente, quero somente que cesse o turbilhão que se deslocou de minha cabeça para o estômago.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

O palhaço.

O palhaço que me encanta diz que hoje vivemos em torno do sucesso. Essa mesma vida jovem, imatura, louca e desmesurada que circunda o sucesso como um urubu terá de lidar com o fracasso no futuro. Não porque todos fracassamos, mas porque todo sucesso é pouco para um urubu jovem e inconseqüente e, portanto, o fracasso e sua constatação não falharão. Velhos, maduros, a dívida da vida se torna como lidar com isso, como saber que todos os impulsos loucos da juventude não foram atingidos. Como ver que o corpo se despedaça e os dias se tornam mais longos, tão longos quanto um dia quisemos.

O palhaço diz verdades incoerentes, que só são passíveis de compreensão por quem pode ver seu desespero. Um palhaço não é lúdico, é trágico. Um palhaço não é quem faz rir, é alguém que está de fora, que não pertence, que não participa da unidade incrível e perfeita da sociedade. Temos que ser todos perfeitos para o palhaço não ser, ou temos que ser todos perfeitos para não sermos palhaços.

Ser um palhaço é mais cansativo do que ser, simplesmente ser. Para esmiuçar a realidade um palhaço projeta em si a falência. O mais interessante é que o fracasso é risível aos olhos crus, impudicos, que percebem todos os dias que não podem pensar no fracasso de suas vidas, mas somente no fracasso da vida do palhaço.

A modernidade dificulta que as pessoas enxerguem seus próprios fracassos, delírios, pequenas tragédias cotidianas ou permanentes, fatos irreversíveis. Precisamos dos palhaços para enxergar o que não queremos ver em nós mesmos, embora presente. Os pedaços de cada sorriso são expressões multiformes do silêncio imposto à voz da solidão, que agoniza, rouca, indelével pelo vento. Sou uma espinha no nariz vermelho do palhaço.

O sentido da coisa seria mais facilmente encaminhado, não compreendido, veja bem, pois não se quer compreender, caso pudéssemos viver dias de consciência sobre toda a tragédia humana, pessoal e impessoal, individual e coletiva, que nos acomete a todo instante. O palhaço somos todos nós, mas não o risível, e sim a tragédia. O palhaço não vive ou é só um sopro de consolo dos deuses tutelares das intempestividades.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Mofo

Naquele dia tinha saído cedo de casa, a garoa indicava que não era hora, melhor se tivesse me mantido na cama. Mas uma tarefa penosa e inevitável me tragava. Quanto mais a adiasse, pior seria para meu estômago já bastante castigado.

A noite anterior fora repleta de sonhos reconstituídos. A robustez do convívio, a aurora da retomada. Os dias do futuro lampejavam e eu queria vivê-los com intensidade. Tomei uma decisão assim, no calor do momento.

Cheguei à casa de Vera Lúcia por volta das 6 da manhã de um domingo pós-devastação. Muita angústia para quem precisa salvar o estômago. Estava tão cheio de si e convicto, que não soube o que fazer. Rapidamente seus olhos me dissuadiram da aversão e a aurora fora adiada, mais uma vez, para me mergulhar noutros longos e espaçados dias de lassidão.

A altivez me atrai enquanto o bolor dos dias quentes e úmidos me envolve. Estou preso. Busco o sinal verde que nunca chega. Acredito no seu poder, na sua autorização, mas ele não se acende. Quero voltar para o bolor. Bom é sair e não voltar.